No dia 25 de julho de 1992, mulheres negras de setenta países participaram do I Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, na República Dominicana, problematizando questões de racismo, sexismo, machismo, dentre as várias desigualdades a serem superadas. Neste sentido, estabeleceu-se o dia 25 de julho como o marco internacional de luta e resistência da mulher negra.
Hoje, 25 de julho de 2010 - ano interamericano das mulheres - olhar para nós mesmas e refletir onde,em que e como avançamos, são análises constantes a partir do momento que nos tornamos mulheres participantes dos movimentos sociais, na busca da nossa identidade negra feminina.
Este 25 de julho, em especial para mim mulher negra, tem um sabor diferente: pela primeira vez acreditando em um projeto político coletivo coloquei meu nome à disposição do processo eleitoral para a esfera parlamentar do Distrito Federal.
Esta iniciativa e decisão faz parte de um projeto maior – a população negra nos espaços de poder. Especialmente para mulher negra, que é protagonista em várias frentes, é necessário que a ocupação de seu espaço no Parlamento saia do lugar das possibilidades para o de realidades.
Muito além das capacidades familiares, que nos julgam inatas, temos sim a capacidade e competência para contribuir para que a Câmara Legislativa do Distrito Federal seja mais plural, diversa e tenha lugar para todas as mulheres, independente de suas orientações sexuais, classes, relações trabalhistas, formações acadêmicas (ou não) ou de qualquer outro recorte. A nossa meta é fazer com que todas e todos nos conheçam pelo nome e pelo que faremos para a melhoria da Capital Federal. Não pelo cargo, número ou posição social.
Como eu, estão concorrendo outras mulheres negras que saíram do espaço privado e estão se lançando para o espaço público de disputas políticas. A VÍTÓRIA de uma representante negra compromissada em defender os direitos e oportunidades para a população negra tem um valor imensurável para a auto-estima, respeito e valorização da nossa organização negra.
Mulheres negras que vão propor e defender políticas públicas permanentes para as mulheres negras, zelando e primando por nossas ancestralidades e juventudes, a partir da implementação no DF da Política Nacional da Saúde Integral da População Negra, a qual determina o quesito cor nas fichas de internação; a capacitação dos profissionais da saúde, reconhecendo a importância das recorrentes doenças que mais afetam nossa população negra, como anemia falciforme, hipertensão, doenças cardiovasculares; conscientização e acesso ao pré-natal principalmente para nós negras, que somos acometidas de forma recorrente por problemas no mioma; e humanização do atendimento em todas as esferas do Sistema Único de Saúde, a fim de combater o racismo institucional que se coloca nos serviços de saúde.
Esta nossa decisão é a continuidade da luta constante, diária e histórica em 30 anos, desde a minha chegada em Brasília comprometida ao enfrentamento do racismo, machismo e sexismo. E esta luta não difere da que é empenhada por melhores condições de vida das mulheres no Brasil e no mundo.
A todas nós, mulheres negras, aguerridas de raça e coragem, eu saúdo neste dia, com votos de que juntas possamos construir um Distrito Federal mais promissor e acolhedor à nossas filhas,filhos, cônjuges, sobrinhas,sobrinhos, irmãs, irmãos, avós, avôs, netas, netos, amigas e amigos, companheiras e companheiros, um DF melhor a quem o queira.
Asé
Jacira da Silva
Fórum de Mulheres Negras do DF
Movimento Negro Unificado/DF